Efeito agudo de um combate de Mix Martial Arts (MMA) nas concentrações séricas de testosterona, cortisol, creatina kinase, lactato e glicose.
Foram coletadas 12 variáveis bioquímicas( utilizei 6 para defesa) 24 horas antes, 1 horas antes do combate, imediatamente após o combate e 24 após o combate. Tenho estatísticas de cada round aferir a pressão arterial e a frequência cardíaca. para se ter uma ideia ao todo foram envolvido nesse evento 100 pessoas trabalharam, 6 médicos e 28 enfermeiros, o sangue coletado foi direto para os laboratórios.
O objetivo do presente estudo foi analisar o comportamento das concentrações séricas de testosterona (T), cortisol (C), lactato (LAC), creatina quinase (CK) e glicose (GLI) em atletas de mix martial arts (MMA). Vinte atletas de MMA foram divididos em dois grupos, de acordo com o resultado do combate e avaliados em quatro momentos: 24 horas antes (-24h), uma hora antes (-1h), logo após (0h) e 24 horas (+24h) após a luta. Foi observado uma diminuição na T e no T/C do momento -24h até ao 0h e posteriormente aumentando do 0h para o +24h e um comportamento inverso nas variáveis C, LAC e GLI (p<0,0001); diminuição do momento -24h para o -1h e um aumento do -1h até +24h na CK (p<0,0001); e diferenças entre os vencedores e os perdedores na T, nos momentos -24h, -1h, 0h e +24h (p=0,009, p<0,001, p=0,001 e p<0,0001, respectivamente), no T/C nos momentos -24h e 0h (p=0,006 e p=0,001, respetivamente) e no momento 0h na GLI (p<0,0001). Conclui-se que um combate de MMA provoca stress metabólico e dano muscular, independentemente do resultado final. Os treinadores passam a possuir indicadores bioquímicos e hormonais de referência de resposta a um combate MMA.
Palavras-chave: hormonas, biomarcadores sanguíneos, lutadores de MMA.
Introdução
Atualmente o Mixed Martial Arts (MMA) tem uma grande popularidade entre os fãs de lutas. Esta modalidade contempla uma diversidade de disciplinas, dentro das quais o Judô, Karate, Jiu-Jitsu, Muay Thay e Taekwondo. Inerentes a sua prática regular e sistemática, encontram-se evidenciadas as capacidades motoras força e resistência (Guerra Filho et al., 2014), condição esta que se traduz em níveis elevados de condição física presentes nos seus praticantes (Dooley, 2013).
Durante o período de preparação para a luta alguns fatores podem refletir no desempenho do atleta na competição, tais como a condição física, técnica e a tática, bem como fatores psicológicos e fisiológicos. O stress que ocorre antes e durante uma competição, tem sido associado à falta de atenção e a um aumento da tensão muscular do atleta, podendo levar à derrota e também expor o organismo a níveis elevados de stress, não só psicológico mas, igualmente, físico (Santos, & Stefanello, 2010). Esta exposição ao stress pode acarretar um conjunto de reações químicas, libertando uma série de hormonas na corrente sanguínea, como: testosterona (T), cortisol (C), adrenalina (ADR), noradrenalina (NORA). Igualmente, são libertados alguns produtos, subprodutos e enzimas metabólicas, tais como: glicose (GLI), lactato (LAC), creatina quinase (CK), lactato desidrogenase (LDH) que podem influenciar no desempenho do atleta e ao mesmo tempo podem servir de marcadores bioquímicos para a análise da influência do stress físico e psicológico no atleta (Brandao, Fernandes, Alves, Fonseca, & Reis, 2014; Filaire, Sagnol, Ferrand, Maso, & Lac, 2001) e diferenciar entre vencedores e perdedores.
As alterações hormonais antes e após uma competição foram inicialmente observadas por Mazur (1985), em que este autor levanta a hipótese da existência de um incremento nos vencedores dos valores de T, em situação de competição, e uma diminuição dos valores de C, observando-se o efeito contrário nos perdedores. Contudo, este efeito foi observado em competições onde a componente física não estava contemplada mas em situações de jogos de computador. Por sua vez em competições em que a componente física está envolvida, como o caso das lutas, vários são os autores que observaram alterações dispares na resposta hormonal entre vencedores e perdedores (Suay et al. 1999; Filaire, Sagnol, Ferrand, Maso, & Lac, 2001b; Papacosta, Nassis & Gleeson, 2015).
Filaire et al., (2001b), observaram em atletas de judô valores de T significativamente superiores nos vencedores após uma competição. Esta diferença após tem sido confirmada por Fry, Schiling, Fleck & Kraemer, (2011) e Kraemer et al. (2001). Contudo, outros autores (Coswig et al., 2013; Alicia Salvador et al., 1987; Suay et al., 1999; Coswig et al., 2013 Papacosta et al.,2015) não observaram essa diferença. Igualmente, Filaire et al (2001), não observaram diferenças nos valores salivares de T entre a participação no campeonato regional e no campeonato inter-regional.
Na literatura encontra-se uma resposta divergente da T a um combate de artes marciais. Enquanto alguns autores observam um incremento dos valores séricos e salivares de T após o combate (Suay et al., 1999; Papacosta et al., 2015), outros não observam alterações significativas (Filaire et al., 2001; Salvador, Suay, González-Bono, Serrano, 2003).
Em relação à hormona C, a sua concentração em situações pré-competitivas pode ser considerada como um indicador de stress, devido ao medo de fracassar ou na incerteza de conseguir vencer, podendo indicar um estado em alerta “pré-competitivo” por parte do atleta (Girardello, 2004). Igualmente, parece existir após um combate níveis de C mais elevados nos perdedores do que nos vencedores (Coswig, Neves, & Del Vecchio, 2013). Contudo, no estudo de Suay et al. (1999) foi observado valores superiores nos vencedores. Por outro lado, outros não observaram diferenças entre vencedores e perdedores (Alicia et al. 1987, Filaire et al., 2001). O comportamento dos valores séricos e salivares do C parecem aumentar dos momentos pré combate para os momentos pós combate (Suay et al., 1999; Filaire et al., 2001). Contudo, Salvador et al., (2003) e Papacosta et al., (2015), não observaram alterações significativas entre os momentos pré e pós combate.
Da mesma forma, após um combate, as concentrações de LAC no músculo esquelético podem aumentar devido à intensidade dos esforços exercidos durante o combate (Amtmann, Amtmann, & Spath, 2008; Viveiros, Costa, Moreira, Nakamura, & Aoki, 2011). Igualmente, os valores séricos de CK podem estar aumentados após um combate podendo refletir os níveis de lesão muscular (Baird, Graham, Baker, & Bickerstaff, 2012; Bandeira, Moura, Souza, Nohama, & Neves, 2012; Coswig et al., 2013). Esta enzima é encontrada predominantemente nos músculos e, por ocasião do rompimento das fibras, devido ao esforço muscular, é libertada na circulação sanguínea, podendo assim ser utilizada como um marcador indireto para detecção de lesões musculares e da intensidade do esforço realizado (Fábio Bandeira, Neves, Barroso, & Nohama, 2013; Bandeira, Neves, Moura, & Nohama, 2014; César, Bara Filho, Lima, Aidar, & Dantas, 2008).
Na literatura são escassos os estudos que tentam observar o comportamento de marcadores bioquímicos e hormonais antes e após competições de modalidades de luta, especialmente no MMA. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi analisar as concentrações de T, C, LAC, CK e GLI em atletas de MMA de alto rendimento, antes e após combate.
Métodos
Vinte e quatro horas antes do combate foram realizadas as avaliações antropométricas dos atletas (massa corporal, estatura e percentagem de gordura estimada). A percentagem de gordura estimada foi obtido através da medida das pregas cutâneas utilizando o protocolo de 7 pregas cutâneas proposto por Jackson & Pollock, (1978). Para analisar o efeito de uma luta de MMA nos níveis hormonais (T e C) e nos marcadores bioquímicos (CK, LAC e GLI) os atletas foram avaliados em quatro momentos: 24 horas antes (-24h), 1 hora antes (-1h), logo após (0h) e 24 horas após (+24h) o combate.
Amostra
Foram selecionados 20 homens, atletas profissionais de MMA, participantes de um evento oficial da modalidade, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ter pelo menos seis anos de prática do esporte e no mínimo três lutas como profissional, não utilizar esteroides anabolizantes ou outros medicamentos que pudessem influenciar nos resultados. Os sujeitos foram divididos em dois grupos de 10 lutadores, de acordo com o resultado no combate: vencedores (26,20 ± 2,39 anos; 86,00 ± 16,66 kg; 177,50 ± 8,11 cm; 15,62 ± 7,21 %G e 9,40 ± 2,99 anos de prática) e perdedores (24,30 ± 1,83 anos; 87,20±14,36 kg; 178,90 ± 6,94 cm; 17,72±6,37 %G e 7,70 ± 2,16 anos de prática). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba.
Procedimentos
Todos os atletas chegaram ao local do evento pelo menos 48 horas antes do combate e alojados em um hotel nas proximidades. Nesse primeiro dia e no local de evento foi efetuado as medições antropométricas. Posteriormente, 24h antes do combate, os atletas efetuaram a primeira recolha de sangue no seu alojamento. Esta recolha, tal como as restantes, foram efetuadas por um enfermeiro capacitado para o efeito. Após este procedimento, os atletas permaneceram no seu alojamento até 2 horas antes do combate. No local do evento e uma hora antes do mesmo foi efetuada a segunda recolha de sangue e a terceira recolha logo após o combate. A última recolha de sangue foi efetuada 24 horas após o combate e novamente no hotel, no quarto do atleta. Para efetuar as recolhas de sangue cada sujeito permaneceu sentado, de forma confortável, com o membro superior garroteado, tendo-se recolhido 10 ml de sangue da veia cubital média do membro superior do atleta utilizando-se um sistema de coleta de sangue venoso (BD Vacutainer®, New Jersey, EUA). Após cada recolha, as amostras de sangue foram imediatamente transportadas para um laboratório certificado onde foram realizados os procedimentos de análise. No laboratório as amostras, após a sua chegada, foram centrifugadas por 10 minutos a 1500 rpm (Megafuge 1.0R, Heraeus, Germany). Posteriormente, o soro foi removido e mantido a -20º C para posterior análise. As concentrações séricas de testosterona e cortisol foram determinadas usando os kits de radioimunoensaio ( Cortisol Coat – Count RIA, DPC Med lab, Los Angeles, USA) (Rosa et al., 2014). Para as variáveis bioquímicas ( CK, LAC e GLI) foram determinadas por meio do equipamento Integra 600® (Roche Diagnostics, Basileia, Suiça) empregando a metodologia enzimática calorimétrica de ponto final (Coswig et al., 2013).
Análise estatística
A análise dos dados foi efetuada através do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21.0. Os dados foram analisados descritiva e inferencialmente. No âmbito da estatística descritiva recorremos a parâmetros de tendência central e de dispersão (média ± desvio padrão). Foi utilizado o teste Shapiro-Wilk e Mauchly para verificar se os dados apresentavam uma distribuição normal e uma esfericidade. Confirmada a normalidade da distribuição dos dados, foi utilizado o teste t de Student, para amostras independentes, para verificar a existência ou não de diferenças significativas entre vencedores e perdedores no momento inicial, nas diferentes variáveis. Após este procedimento foi utilizado uma ANOVA para medidas repetidas com o modelo 4 momentos (-24h, -1h, 0h e +24h) x 2 grupos (vencedores e perdedores), com post hoc de Bonferroni. Nesta análise, e quando verificado diferenças significativas entre vencedores e perdedores no momento -24h, foi usado os valores médios neste momento como covariável. O nível de significância foi mantido em 5%.
Resultados
Um significativo efeito momento foi observado em todos os marcadores bioquímicos e hormonais entre os diferentes momentos analisados (F(3,54)=333,985; p<0,0001; ηp2=0,949; F(3,54)=58,129; p<0,0001; ηp2=0,774; F(3,54)=5,264; p=0,003; ηp2=0,236; F(3,54)=611,244; p<0,0001; ηp2=0,971; F(3,54)=271,616; p<0,0001; ηp2=0,938; ηp2=0,774; F(3,54)=53,448; p<0,0001; ηp2=0,748, T, C, T/C, LAC, GLI e CK respetivamente). Em relação às variáveis T e T/C foi observado uma diminuição significativa (p<0,0001), dos seus valores séricos, do momento inicial (-24h) até ao momento 0h (-27.53% e -29.72%, -39,39% e -54,44%, -24h para -1h e -1h para 0h, T e T/C, respectivamente) e posteriormente aumentando significativamente (p<0,0001) do momento 0h para o +24h (54,04% e 224,50%, T e T/C, respetivamente). Em relação as variáveis C, LAC e GLI foi observado um comportamento contrário, os seus valores vão aumentando significativamente, (p<0,0001), do momento -24h até ao 0h (22,74% e 47,49%, 53,62 e 519,34%, 16,18% e 107,90%, -24h para -1h e -1h para 0h, C, LAC e GLI, respetivamente) e diminui significativamente (p<0,0001) do momento 0h para o +24h (-50,12%, -86,52% e -61,8%, C, LAC e GLI, respetivamente). Em relação à variável CK foi observada uma diminuição significativa (p<0,0001) dos seus valores séricos do momento -24h para o -1h (-18,39%), um aumento significativo (p<0,0001) do momento -1h para 0h (13,35%) e um aumento significativo (p<0,0001) do momento 0h para o momento +24h (187,23%). (ver tabela 1 e 2).
—INSERIR TABELA 1 AQUI—
Foi observado um efeito grupo nas variáveis T, T/C e GLI (F(1,18)=4,700; p=0,035; ηp2=0,217, F(1,18)=7,056; p=0,017; ηp2=0,293 e F(1.18)=17,929; p<0,0001; ηp2=0,499, T, T/C e GLI, respetivamente). Foi, igualmente, observada uma interação momento x grupo na T e na GLI (F(3,4)=3,090; p=0,035; ηp2=0,154 e F(3,54)=15,454; p<0,0001; ηp2=0,462, T e GLI, respetivamente). Foram observadas diferenças significativas entre os vencedores e os perdedores, nos níveis de T, nos momentos -24h, -1h, 0h e +24h do combate (p = 0.009, p < 0,001, p=0,001 e p<0,0001, respectivamente), no T/C nos momentos -24h e 0h (p=0,006 e p=0,001, respetivamente) e no momento 0h na GLI (p<0,0001), apresentando os vencedores nestes momentos nas variáveis T e GLI valores significativamente superiores e inferiores na variável T/C no momento -24h e superiores no momento 0h. No C foi observado valores significativamente superiores (p=0,023) nos vencedores em relação aos perdedores no momento -24h. Não foram observadas diferenças significativas entre vencedores e perdedores em mais nenhum momento e variável.
—INSERIR TABELA 2 AQUI—-
Discussão
No presente estudo foram observadas alterações significativas nos níveis de C, T, GLI, LAC, CK e ratio T/C em resposta a um combate de MMA, corroborando a ideia de que este desporto provoca um elevado stress físico, que se poderá refletir, igualmente, em termos psicológicos (Jorge et al., 2010). Os atletas do presente estudo eram atletas de nível técnico superior em relação ao ranking nacional da modalidade, quer os vencedores quer os perdedores.
Em relação à variação dos marcadores bioquímicos e hormonais estudados, pode-se observar dois tipos bem distintos de comportamento: nas variáveis C, LAC e GLI, caracterizados pela elevação gradual nos momentos que antecedem ao combate, tendo seu pico após a luta e diminuindo no momento +24h; e na T , diretamente oposto, com redução gradual até o momento 0h e retornando a valores normais no momento +24h. Este comportamento observado vai de acordo com o comportamento observado pelos estudos de (Coswig et al., 2013; Moreira et al., 2012; Salvador et al., 2003; Suay et al., 1999). Por outro lado, os valores séricos da CK evidenciaram um comportamento distinto das variáveis anteriores, pelo facto da CK ter sido avaliada como marcador de lesão muscular, sendo por isso de esperar uma elevação da sua presença no soro após o combate, em especial após 24 horas.
Em relação à variável C, os dados do presente estudo apontam para valores significativamente superiores nos momentos pré luta (-24h e -1h), nos atletas que venceram a competição, indo de encontro ao observado por Passelergue and Lac (2012) que analisaram 15 atletas de wrestling da categoria júnior, nível nacional e internacional. Igualmente, Papacosta et al, (2015), observaram em atletas de Judô valores significativamente superiores nos vencedores em relação aos vencidos na manhã antes do combate. Contrariamente, outros autores que não observaram diferenças nos valores de C, quer sérico quer salivar, entre vencedores e perdedores, em diferentes modalidades de combate como o Jiu Jitsu (Coswig et al., 2013) e o Judô (Filaire et al., 2001). Aspetos metodológicos como o número de sujeitos, idade, desporto de combate, momento e horários de medição e tipo de C avaliado (sérico ou salivar) podem explicar as diferenças entre os estudos analisados. O facto de no presente estudo os atletas vencedores terem apresentado valores superiores em relação aos perdedores pode estar relacionado com uma melhor preparação pré-competitiva. Valores de C mais elevados pré competição podem propiciar uma melhor percepção da situação e de suas necessidades, assim como um processamento mais rápido de informação, possibilitando uma busca de soluções, selecionando condutas adequadas e preparando o organismo para agir de forma rápida e eficaz (Margis, Picon, Cosner, & Silveira, 2003), desde que essa elevação não seja demasiada alta, que também poderia prejudicar o atleta. Em relação ao comportamento do C, independentemente do resultado, foi observado no presente estudo um aumento significativo dos momentos -24h para o momento 0h, podendo representar o alto nível de esforço físico realizado por ambos os atletas e por uma tardia resposta fisiológica ao combate (Salvador et al., 2003). Estes resultados estão de acordo com os estudos de Suay et al., (1999) e Filaire et al., (2001) mas diferem dos resultados de Papacosta et al., (2015). Esta diferença pode estar relacionado com a modalidade desportiva MMA no presente estudo e Judô no estudo de Papacosta et al., (2015). Contudo, nos estudos de Suay et al., (1999) e Filaire et al, (2001), a modalidade de combate não diferia de Papacosta et al., (2015), o Judô. Desta forma, pensamos que uma das possíveis explicações para que no estudo de Papacosta et al., (2015), não se ter observado aumentos no C entre os momentos pré e pós combate poderá ter sido o nível técnico dos atletas de Judô. No estudo de Suay et al., (1999), os atletas eram entre o cinto castanho e o cinto negro de 3º Dan de Judô enquanto no estudo de Papacosta et al., (2015), os atletas eram todos de cinto negro, entre o 2º e 3º Dan, igualmente, de Judô. Desta forma os atletas do estudo de Papacosta et al., (2015), possivelmente teriam um nível técnico superior aos de Suay et al., (1999), permitindo que estes efetuassem um combate mais técnico e táctico em detrimento da utilização das capacidades físicas. Contudo, o nível dos atletas de judô do estudo de Filaire et al., (2001), eram idênticos ao de Papacosta et al., (2015). Desta forma, outros aspetos metodológicos podem ter influenciado as diferentes respostas desta hormona ao combate entre estudos, tais como a sua forma de colheita (sangue ou saliva), momentos de colheita, experiência em treino e combate dos atletas e modalidade desportiva de combate.
No presente estudo foi observado 24 horas após o combate, uma diminuição significativa nos níveis de C, atingindo valores idênticos aos observados 24 horas antes do combate. Na comparação entre os atletas vencedores e perdedores 24 horas após o combate, aqueles que venceram continuaram a evidenciar valores de C significativamente superiores aos perdedores, tal como o observado nos momentos que antecederam o combate. Contudo, quando normalizado na comparação entre vencedores e perdedores os valores no momento -24h essa diferença não foi significativa. Desta forma, não podemos afirmar que os atletas vencedores estavam no estado de alerta pré-competitivo superior aos perdedores. Pode ser que os valores basais dos atletas vencedores fossem já superiores em relação ao perdedores. Assim, próximos estudos, devem procurar observar períodos anteriores às 24 h pré-competição de forma a esclarecer este aspeto.
Em relação à T no momentos antes da luta (-24h e -1h) os níveis apresentaram quedas significativas, corroborando com os estudo de (Coswig et al., 2013) que realizaram coletas semelhantes, no desjejum e 90 minutos antes da luta, apresentaram uma queda nos níveis de T. Essa diminuição observada nos níveis de T pode ser interpretada como uma reação ao stress pré-competitivo, assim como pode ter sido influenciada por um aumento significativo dos níveis de C, o qual poderá ter motivado a redução observada dos níveis de T (Salvador et al., 1987). Contudo, como referimos anteriormente, não podemos afirmar que existia um stress pré-competitivo nestes atletas. Embora, a mesma explicação pode ser dada para a queda significativa observada no momento 0h e nesta situação suportada pelo retorno aos valores de -24 h antes, tal como ocorreu com o C. Esta queda do momento pré para o momento pós combate não corroboram com os estudos analisados em que foram observados aumentos significativos (Suay et al., 1999; Papacosta et al., 2015) ou sem alterações (Filaire et al., 2001; Salvador et al., 2003). Estas divergências podem, mais uma vez, estar relacionadas com a metodologia utilizada nos diferentes estudos tal como referidas para o C. Em relação à dependência da resposta de T em relação ao resultado final do combate os vencedores evidenciaram valores superiores desta variável em relação aos perdedores em todos os momentos, mostrando que os vencedores parecem utilizar um mecanismo de regulação diferente para a resposta da T do que os perdedores. Estes resultados corroboram com os observados por Filaire et al., (2001) no momento pós exercício e não corroboram com o estudo de Papacosta et al., (2015). A diferença de modalidade desportiva de combate entre o presente estudo e os estudos referenciados (MMA e Judô, respetivamente) podem explicar estes resultados. O MMA utiliza para além de projeções e chaves de braços e pernas, como no Judô, mas igualmente utiliza chutes e socos que são mais físicos do que as técnicas referidas anteriormente. A T responde de forma mais efetiva com ao esforço físico mais intenso.
O ratio T/C apresenta um comportamento similar a T, mostrando uma queda nos momentos pré luta (-24h e -1h) e logo após a luta (0h), fato que explica que a competição é um indicador de stress fisiológico (Girardello, 2004), no entanto no momento +24h houve um aumento podendo ser devido à necessidade de reparação tecidual, demostrando um potencial para o anabolismo (Leite et al., 2011).
Quando comparamos outros marcadores bioquímicos, o LAC e a GLI apresentaram diferenças significativas do momento pré luta (-24h e -1h) para o momento pós combate (0h), refletindo a ativação predominante do metabolismo anaeróbico láctico nos lutadores (Coswig et al., 2013), considerando que esse aumento nos níveis de LAC após combate podem não só refletir a sua produção no músculo, mas também a conversão do LAC em GLI.
Após o combate foi observado valores diferentes entre vencedores e perdedores na variável GLI prevalecendo níveis mais elevados dos vencedores do que dos perdedores. Este fato pode ser devido a uma suposta melhor técnica por parte dos atletas vencedores em relação aos perdedores, levando a que estes necessitassem de menos esforço, dispendendo menos energia para vencer o combate. Reforçando esta ideia, o mesmo foi observado por Brandão et al., (2014), após um combate de Jiu Jitsu entre atletas de elite e de não elite.
Quanto aos valores de CK, esta apresentou um aumento significativo no momento +24h, tal como esperado, o que reflete e indica ter ocorrido lesões no tecido ativo, afetando a composição e a integridade da membrana plasmática (Baird et al., 2012). Os valores de CK observados logo após combate corroboram com os resultados observados por Brandão et al., (2014), que expressam que para se detectar alterações nesta variável e para tentar compreender o nível de lesão muscular provocada pelo combate a recolha de uma amostra pós combate parece não ser suficiente. Desta forma, sugerimos que seja efetuada uma recolha de amostra desta variável por períodos mais longos após combate, tal como realizado no presente estudo (+24h).
Conclusão
Tendo como base os dados do presente estudo, parece que um combate de MMA provoca stress metabólico e de dano muscular pós competitivo independentemente do resultado final do combate. Contudo, a vitória parece estar associada a níveis séricos de testosterona mais elevados. O comportamento das variáveis bioquímicas e hormonais analisadas, do presente estudo, ao longo dos momentos é diferente. Desta forma, os treinadores destes atletas passam a possuir indicadores bioquímicos e hormonais de referência à resposta a um combate de MMA.
Referências
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Tabela 1. Médias ± Desvios Padrão dos valores de Testosterona e Cortisol dos lutadores de MMA nos momentos analisados
Testosterona (nmol.L-1) |
||||
|
-24h |
-1h |
0h |
+24h |
Vencedores |
20,05±2,13* |
15,90±1,18* |
11,92±1,79* |
17,75±2,00* |
Perdedores |
15,91±2,40*¶ |
10,16±3,52*¶ |
7,14±2,73*¶ |
11,61±1,79*¶ |
Total |
17,98±3,06* |
13,03±3,90* |
9,53±3,33* |
14,68±4,02* |
Cortisol (nmol.L-1) |
||||
Vencedores |
580,63±83,18* |
706,00±64,65* |
949,98±59,20* |
522,22±73,69* |
Perdedores |
387,29±147,64Υ¶ |
482,03±180,55* |
802,21±94,43* |
351,69±109,86Υ |
Total |
483,96±153,10* |
594,02±144,99* |
876,09±107,84* |
436,96±126,26* |
Testosterona/ Cortisol |
||||
Vencedores |
34,76±2,38Υ |
22,56±8,52* |
12,49±1,10* |
34,13±1,43Υ |
Perdedores |
40,15±4,88* |
22,85±7,70* |
8,66±2,42* |
10,57±2,69* |
Total |
37,45±4,65* |
22,70±5,31* |
10,57±2,69* |
34,30±4,73* |
*p<0,05 em relação aos restantes momentos; Υ p<0,05 em relação aos restantes momentos com exceção do momento -24h e +24h; ¶ p<0,05 entre Perdedores e Vencedores.
Tabela 2. Médias ± Desvios Padrão dos valores de Glicose, Lactato e Creatina Kinase dos lutadores de MMA nos momentos analisados
Glicose (mg/dl) |
||||
|
-24h |
-1h |
0h |
+24h |
Vencedores |
4,48±0,35* |
5,43±0,83* |
11,73±2,30* |
4,03±0,21* |
Perdedores |
3,80±0,44Υ |
4,20±0,49* |
8,27±1,33*¶ |
3,62±0,18* |
Total |
4,14±0,52* |
< |